São dedos vadios que mexem
Remexem e se afoitam
Sem querer, mergulham
No querer abrir
Andar de folha em folha
Sem que as histórias queiram seu tacto
Seu perfume, arrojo ou curiosidade
Dedos que lêem
Constroem e destroem
Distorçam a seu belo prazer
Vadios que são
Sentem os caminhos seus
Perdidos e deslavados de outros livros
Que certo dia não souberam ler
E perderam-se por vadios que são
Dedos que choram como rios sem nome
Desejo ardente que se deixa no passado
As vadiagens que a dor não apagou
E fardam a tardar
Mesmo que o dia acabe
A noite traz sempre o peso do desaire
Que nos dedos se carrega
E deles se expande
Pela perda de consciência
E imitação do circo que já se desmontou
Mas a ilusão do palhaço sem nome
Ainda alimenta a ideia sem destino
Assim dedos vadios
Desolados, perdidos, sombrios
Deixam-se ir
Na mentira dos seus olhos
No engano da vadiagem de outros dedos
E rasgam folhas e palavras
De um novo livro
Que da seiva de novas margens surgiu
Em novas folhas se despiu
E por amar de verdade
Deixou de saber escrever na falsidade
E cedo se abriu
Longe do medo vil e matreiro
Que tantas páginas já lhe feriu
E outras escreveu no sangue de um lágrima
Em historias que do seu peito
Mostrado de coração puro
Entregou a caneta aos dedos vadios
Para novas frases desenharem
Novos contos rabiscarem
Sem lastimarem mais as costas do seu rio
Traseiras que são outras margens
E a água deste livro já só passa uma vez
Pelas pontas destes dedos vadios
Que de cegos se deixam levar
Pela amarfanhada ideia de corrente sem fim
Ilusões que matam no silencio
As páginas do livro
Que certo dia mexeram e remexeram
Em busca das palavras
Que ficaram sem escrita
No vazio das páginas que esperam
Na contagem do tempo que não tem tempo
Por outras historias
Que não as de uma vadiagem sem historia
Ou de estórias sem nomes.
Este livro está aberto
Ainda antes dos dedos vadios
Porque só de amor vive o seu rio…
Que apenas passa uma vez
Por cada página dos dedos vadios…
Carlos Almeida.2020